segunda-feira, 3 de março de 2008

É normal uma criança ter hábitos de consumo em família toxicodependente

Os últimos dados da PJ do Funchal revelam, que em 2007 a apreensão de heroína sofreu um aumento de 700%. E se é notório que a procura acompanha a oferta, o drama chega através de uma nova realidade: as crianças."Temos miúdos cada vez mais novos a iniciar-se na heroína. Miúdos que vêm de meios sociais muito degradados onde a heroína já é um hábito", disse ao DN Manuela Parente. Explica que há alguns anos era normal uma criança de dez anos ter hábitos alcoólicos numa família de alcoólicos. Hoje passou a ser "normal uma criança de 11 anos ser heroinodependente numa família de heroinodependentes. Não há muitos casos, por enquanto, mas os poucos que aparecem são suficientemente preocupantes para me deixar angustiada", afirma. Esta situação implica encontrar soluções, pois o centro "nos moldes em que está não é adequado para receber estas crianças. Não me interessa nada que digam que lá fora elas andam com adultos! Eles são demasiados novos, nem sequer são adolescentes. Vamos ter de encontrar espaço e estratégias próprias", reitera. Semanalmente, há sempre pessoas que recorrem ao centro pela primeiro vez, o que significa que, "neste momento, a situação não está controlada na Madeira, tal como acontece noutros locais do país", diz. A pergunta impõe-se. O que se faz a uma criança de dez ou 11 anos dependente de heroína e que não adere a qualquer tratamento, pois "entram aqui quase obrigadas pela mão das assistentes sociais"? É difícil estabelecer uma relação, mas "acho que já conseguimos alguma coisa. Hoje, os miúdos da rua vêm ter comigo. Antes eram bichinhos-do-mato, nem olhavam para a nossa cara. Temos uma criança que foi o próprio pai que lhe injectou heroína". A verdade é que eles não conseguem parar de consumir. E agora? "Devemos ou não integrá-los num programa de substituição? A metadona é uma hipótese. Mas vamos começar já a dar-lhes metadona? Introduzir-lhes uma substância que acaba por ser agressiva tendo em conta a idade? Ou não fazemos nada, sabendo que vão continuar a consumir e a correr riscos?", diz. As interrogações sucedem-se até porque estas crianças já não estão na escola. A distribuição de seringas disparou de duas mil mensais para quatro mil. Uma unidade móvel que só trabalha de dia faz, em simultâneo, a distribuição da metadona a quem está com terapias de substituição e a troca de material aos que consomem.

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